RMC 1300

O primeiro LRM (les Randonneur Mundiaux) do Brasil não estava nos meus planos no início da temporada, pois o foco era o LRM na Espanha MGM 2018.

O complicador maior era a data, pois seria nos últimos dias de entrega de declaração de imposto de renda e como muitos sabem, sou Contador, não subo tão bem como o Alberto, mas também sou contador kkkkkkkk.

Mas eu não poderia ficar de fora do Primeiro LRM Nacional, o RMC 1300, organizado pelo Randonnerus Mogi das Cruzes,  então contei com o apoio profissional da minha filha Bruna para me ajudar a adiantar os serviços aqui no escritório e viabilizei a viagem.

Viajamos eu, Cesar Pupo  e Wilson Poletti na quinta feira, quando ocorreu o Briefing da prova numa pequena confraternização que ocorreu no Hotel Sabor e Fé,  sede do Evento.

A minha garganta deu sinal de que não estava 100% isso me preocupou, pois precisaria do meu corpo como nunca pra superar a batalha.

Uma novidade, foi a instalação de rastreadores em cada bicicleta e também nos carros de apoio da organização, desta forma a organização e o público em geral poderiam acompanhar de tempos em tempos a posição da cada participante de prova. Foi um sucesso, a quantidade de acessos surpreendeu a todos da organização.

PRIMEIRO DIA

A largada foi pontualmente as 6h00 ao som das badaladas dos sinos da Basilica de Nossa Senhora Aparecida, os primeiros 300 kms eram os de maior ganho de elevação, subida de Guaratingueta até Cunha e continuar subindo até a divisa com o Estado do Rio de Janeiro. Como ainda estávamos bem descansados, esse primeiro trecho foi com bom desempenho, a descida até Paraty é bem desafiadora, principalmente para os freios, almoçamos em Paraty, Cesar, Eduardo Galo e eu.

O calor foi o desafio até Ubatuba, 30 graus marcou o termômetro. Mais um lanche em Ubatuba a era chegada a hora da mais temida subida do LRM, a Oswaldo Cruz de Ubatuba até o topo da serra. Subi sem colocar o pé no chão até a metade da Serra. Na segunda metade peguei uma garoa suficiente para molhar a pista e tornar quase impossível pedalar aquela inclinação, que se mantinha em média 12% e atingia picos de 20%, com muito transito, pois era véspera de feriado, com muito desrespeito pelos motoristas que passavam muito perto da gente, no escuro, pois já era noite, resolvi alternar trechos empurrando a bike e outros trechos mais seguros pedalando, as 18h45, cheguei ao topo com o Cesar, de lá até São Luiz do Paraitinga, foi bem tranquilo, porem já sentia o desgaste do dia duro de pedal, me alimentei e segui, desta vez se juntou a nós o Sonildo e o Mario, num momento na estrada ví um vulto de um animal que resvalou na minha roda, o Sonildo disse ter visto um gambá atravessando a pista, logo mais a frente vimos um tatu também atravessando a pista. O cansaço já era enorme, o plano de subir para Campos do Jordão no mesmo dia já tinha ido por agua abaixo, me arrastei até o PC Dormitório em Tremembé. Tenho alguma dificuldade de dormir logo, depois de pedalar o dia inteiro, descansei bem, mas acredito ter dormido pelo menos uma meia hora.

SEGUNDO DIA

Ainda de madrugada partimos par subir para Campos de Jordão, sofri um pouco ainda no escuro, mas quando clareou o dia melhorei. Em Santo Antonio do Pinhal até encontramos outros cliclistas que treinavam ali, aquela região é show para treinar, no pé da serra velha paramos pra tomar um café da manhã reforçado, subimos a Serra bem, desta vez acompanhado pelas meninas, Marilia, Meyre e Vick, chegamos no topo e no Portal todos juntos, meu desempenho no final da serra foi mais fraco, o topo parecia não chegar nunca, até parei na Bica de agua, coisa que não costumo fazer naquela serra. Tiramos a foto no Portal, pois nesse LRM a maioria dos PCs são virtuais, você mesmo precisa fazer os registros das passagens fotografando ou pegando algum tipo de registro. Desci a Serra Nova socando a bota. Já no plano até o Posto Olá e calor e o sol começou a a dar as caras, o PC parecia não chegar nunca, enfim chegamos para almoçar e após comer tentei tirar uma soneca no ar condicionado do restaurante, mas não consegui, então bora encarar o calor e o Sol no longos falsos planos da Rod Carvalho Pinto e Rod. Dom Pedro I, foi bem sofrido, o sol parece sugar nossas energias, chegamos em Igaratá já anoitecendo, hora de jantar pra chegar no próximo PC onde teríamos o apoio da organização e local para dormir, apesar de cansado cheguei bem no Posto Chaparral, encontramos com Aurelio, Trilha, Carlos e Ana. O trecho até Piracaia apesar de ter bastante subidas longas e desempenho foi muito bom logo após o jantar, chegando a Piracaia e que o desempenho caiu um pouco. Fomos muito bem recebidos pela Luciana que estava colaborando naquele PC, tomei o segundo banho me alimentei e dei uma dormidinha, as pessoas precisam respeitar mais o local de dormitório, neste houve muito entra e sai, muito barulho que atrapalhou o sono dos que tentavam dormir, tive alguns momentos de sono mas sem muito sucesso.

 

TERCEIRO DIA

Pedi pra Luciana me acordar as 3h00, mas as 2:30 já estava de pé, então fui preparar a bike pra mais um dia de pedal, foi quando recebi a notícia de que o Cesar estava com um mal estar e teria que seguir sozinho, ele precisava de mais uns minutos de repouso e pediu pra eu seguir sem ele. Segui com a Marilia, Meyre e Trilha, começava alí o sofrimento com o frio demasiado, acelerei pra esquentar e logo estava sozinho no pedal, o trecho de Joanopolis até Extrema é bem duro, com pequenas subidas de bastante inclinação, pelo menos serviu pra esquentar, amanheceu o dia e estava em Extrema, minha garganta dava sinal de pioras, começou ali também uma tosse com peito carregado, mas eu tinha que continuar pra terminar aquela bagaça,  parei num posto pra tomar o café da manhã e logo chegaram os outros 3, saímos juntos novamente, mas desta vez fiquei pra traz com a Marilia até ela para pra dormir. Na Fernão Dias tive o único pneu furado do LRM, aproveitei pra descansar,  a Ana passou perguntou se estava tudo bem e seguiu, meu desempenho após o furo melhorou, acho que esse trecho é o mais plano, se tirarmos a Serra antes de Camanducaia e outra antes do Pouso Alegre, a elevação é quase zero nuns 60 kms, mal sinal, pois indicava que teríamos uma elevação grande antes de Piranguinho, dito e feito, o pior é que peguei aquelas subidas no sol de meio dia, muito sofrido pra chegar em Piranguinho, lá reencontrei a Meiyre e o Trilha, almoçamos junto com o Rangel e demos um tempo pra o sol baixar um pouco e seguimos para São Lourenço.

 

Subimos a Mantiqueira e pedalamos muito tempo no topo da Serra, é lamentável o estado do asfalto naquele trecho, percebemos onde está indo o dinheiro público, todo cuidado era pouco para evitar quedas ou quebra da bike, já havia pedalado ali e não lembrava que era tão longo o trecho de asfalto ruim, no mínimo uns 20 kms. Cheguei em São Lourenço por volta das 22h00, sem sono, quase segui sem parar, mas precisava de me alimentar e hidratar, como era Pc dormitório, resolvi tomar o terceiro banho e dormir um pouco, dormi uns 30 minutos

QUARTO DIA

Desta vez sai com o Trilha e o Poletti, que logo nos deixou pra pra traz, era chegado o trecho de menor apoio, seriam vários kms sem nada pela frente depois de Caxambu, um longo trecho de longas subidas intermináveis e pra complicar o termômetro batia 5 graus a todo momento, passei muito frio, houve uma piora ainda mais na garganta e na tosse, quase perdi a voz, logo encontramos o Rangel perambulando no caminho cheio de sono, nos arrastamos os 3 por muitos kms tentando chegar no único posto 24 da estrada, amanheceu e nada do posto, resolvemos parar e dormir no acostamento, e nesse caso sempre aparece um motorista preocupado com a situação e nos acorda preguntado se estamos bem, dormimos um pouco cobertos com a manta térmica até sermos alcançados pela Ana, seguimos os 4 para o posto e tomei um café com leite bem quente, bora seguir pra Bom Jardim de Minas que já estava perto, de lá era descer 20 kms pra Santa Rita de Jacutinga, mas nas provas do RMC até pra descer a gente sobe, antes da descida foram 12 kms de falso plano subindo. Eu e o Trilha nos arrastamos na descida, estávamos bem desgastados, acredito ter sido o frio da madrugada. Resolvemos então almoçar em Santa Rita e dormir um pouco nos fundos do restaurante, comida excelente, lavanderia com sombra, até aquele momento foi a melhor meia hora de sono que tive, fui acordado pelo Sol e seguimos. Apesar do sol forte subi a Serra da Beleza muito bem, já havia subido uma vez, mas a noite e naquela ocasião perdi toda a beleza da Serra, simplesmente espetacular, a descida não é diferente, chegamos em Conservatoria RJ

Reabastecemos e seguimos para Piraí RJ  pela Barra do Piraí, outro trecho de estrada de lamentável conservação, a única coisa boa daquele trecho foi encontrar o Silvio Pereira num PC surpresa bem na hora que meu desempenho estava diminuindo, ele disse que a pouco outros ciclistas haviam passado e me deu ânimo pra tentar buscar os companheiros, não consegui alcançar ninguém mas ajudou a passar mais rápido o trecho até Piraí, lá encontrei o Trilha novamente. Agora era hora de ir pra Bananal, ultimo PC presencial, a partir dali eu não conhecia o trajeto, o Trilha disse que não haveria muitas subidas, mas haveria outro trecho de asfalto bem ruim, acho que o Trilha não fez por mal, mas não era verdade quanto as subidas, nos primeiros 20 km foi plano, mas tinha sim e muitas subidas depois do plano, algumas até com boa inclinação, isso atrasou meus planos de horários e me deixou bastante irritado, era noite e eu estava bem cansado, joguei na marcha mais leve se segui no girinho, até chegar uma sequência de decidas até Bananal. Cheguei sem sono e a ideia era seguir o mais rápido, combinamos de sair meia noite, Eu o Trilha e a Meyre, eu estava bem, batemos papo enquanto o Trilha dormiu empacotado na manta térmica. Mas acabamos atrasando em uma hora o planejamento naquele momento, isso afetou a minha disposição e assim que saímos comecei a sentir muito sono.

QUINTO  DIA  CAPITULO A PARTE

Começou aí o meu maior sofrimento na prova, não conseguia acompanhar os outros, tive a sensação de passar pelo mesmo lugar várias vezes, rendimento quase zero, a impressão é que tinha que fazer cobrinha até pra descer, pedalei 20 kms e tenho somente relances de lembranças, parei e desci da bike, já não tinha noção do que eu estava fazendo ali, a Lua Cheia iluminava tudo, era mato de um lado e mato de outro lado, pensei que estava sonhando, tentei acordar na minha cama quentinha e nada, acordava ali no mesmo lugar, pensei estar preso dentro do meu próprio sonho, neste caso pesadelo, tentei me concentrar e vi a rota no GPS, sabia que tinha que seguir aquela marcação, mas não tinha forças pra nada, vinha na minha cabeça o nome da cidade de Cristalina, mas na vdd o meu destino naquela hora era a cidade de Cruzeiro, cheguei  pensar que poderia estar morto, que poderia ter sofrido um acidente com  a bike  e minha alma estava desgarrada naquele local, até que apareceu um carro, que deu ré e o motorista perguntou: “Tudo bem aí Avellar?” putz aquele cara me conhecia, era o Volnei, do outro lado apareceu o Vinicius, logo perceberam que eu estava dormindo de pé, carregaram a minha bike e entrei no carro de volta ao PC, apaguei dentro do carro, acredito ter dormido umas 3 horas no carro, quando acordei, ainda meio grog, fui analisando o que tinha acontecido e meu pensamento era terminar a prova. Pensei que precisaria estar bem, pois a organização poderia me retirar da prova alegando a minha própria segurança, eu me sentia bem, mas um tanto inseguro, não queria passar por aquilo novamente e estava bem frio. Aí apareceu o Cristiano dizendo que a turma do fundão estava pra seguir na prova é que era pra eu seguir junto com eles, era o que eu precisava, aquilo me deu segurança e parti com eles, antes ouvi alguém dizer para o Cris ficar de olho em mim, no Miguel e em mais outro que acho que era o Galo.

Com medo do frio me agasalhei melhor, mas é bem complicado você acertar na dose nessas horas, pois acaba passando calor nas subidas e frio nas descidas, meu estado de saúde, com a garganta bem ruim e tosse carregada não permitia nenhuma das duas coisas, pois o calor te desidrata e o frio te congela, assim como os outros tirei parte da roupa, mas nas descidas mais longas vestia uma peça pra proteger do vento e assim seguimos, aos poucos o grupo foi se espalhando, fiquei mais a frente com o Cris e me sentindo cada vez melhor, olhava na rota do GPS e via que já tinha passado por aquele local, na vdd pedalei 20 kms até o ponto em que o carro da organização me resgatou e levou de volta pro PC de Bananal, amanheceu e começou a dar fome, estávamos na Estrada dos Tropeiros e também tem pouquíssimas opções de alimentação, passamos por um vilarejo e nada de padaria ou lanchonete, lá nos avisaram que a próxima cidade seria São José do Barreiro a 9 kms e teria mais opções, resolvi acelerar pra chegar mais rápido, foram 9 kms de muitas subidas, mas enfim cheguei e havia uma cafeteria que já havia atendido outros ciclistas, me alimentei, junto com o Sonildo que lá encontrei e o Cris que logo chegou. Enquanto comíamos o restante da galera passou e não parou, haviam comido em outro local. Reestabelecido da fome, amarrei todo o excesso de roupa na bike e parti, era o momento de alcançar o pessoal que havia passado enquanto estávamos parados, pode parecer competição, mas esse tipo de coisa pode te animar e fazer esquecer um pouco das dores e melhorar o psicológico, eu estava bem e segui forte, alcancei todos do grupo um a um, o ultimo que alcancei foi o Miguel, fiquei feliz, pois ele também era uns dos que causavam preocupação na organização e estava com o desempenho bom, segui forte, agora tentando alcançar o grupo da frente. O sol novamente apertou, incrível…, um LRM muito difícil, com uma elevação muito pesada e ainda tinha o frio da madrugada e o calor e sol de dia, todos que estavam na estrada eram verdadeiros heróis. O sono bateu novamente, no cronometro ainda faltava uns 10 kms pra Cruzeiro e dei uma apagada em cima da bike, por Deus acordei antes de cair e resolvi parar pra dormir, enquando procurava um canto pra deitar o carro da organização parou atrás de mim, era tudo que eu precisava, me jóquei no chão e apaguei, ainda deu tempo de ver o Carlos Reis e o Horta falarem pra eu ficar em paz, que ele iriam tirar todo o excesso de roupa (manguito, pernito, corta vento) e também limpar a bike das bagagens que naquele momento não eram mais necessárias.

Meia hora depois me acordaram pra eu seguir viagem, nisso passou o Miguel e quando eu saia chegou o Cris e seguimos juntos, eu achava que faltava 10 km pra Cruzeiro,

mas na verdade faltavam 30, meu cronometro marcava 20 kms rodados a mais, pois voltei para o PC no resgate. Segui com o Cris até alcançarmos o Miguel e a partir daí seguimos os 3 juntos até o final que parecia não chegar nunca. Enfim faltando 2 horas pra terminar o tempo concluímos o LRM mais difícil que já pedalei e considerado o mais difícil do mundo.

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