Brevet 600 Claudio Clarindo

 

Este foi o primeiro Brevet 600 do Audax ABC e desde o inicio, tinha a intensão de pedalar junto com os demais apesar de Organizador do Brevet, missão não tão fácil assim, pois uma coisa é o papel de organizador e outra é o papel de ciclista, mas acredito ter conseguido conciliar as duas coisas sem causar prejuízo pra nenhuma das duas funções, até porque tenho uma equipe muito competente ao meu lado.

Desde o inicio a ideia foi de homenagear o maior ciclista de longa distancia que o Brasil já teve, nosso saudoso amigo e ídolo Claudio Clarindo, então a rota teria que ser especial.

Com a finalização da pavimentação do trecho carioca da Estrada Real, ganhamos a maior e mais difícil montanha asfaltada do Brasil, saindo do nível do mar e atingindo 1500 de altitude, se não me engano a única subida HC (fora de categoria) no Brasil e foi ela que escolhemos.

A largada em Santa Branca foi as 23:00 horas, debaixo de uma chuva intensa, já não bastasse a dificuldade de 600 km, com um percurso desafiador, ainda veio a chuva a noite.

A mim a chuva não incomodou muito, parti num ritmo forte e constante até o PC 1 com 76 kms,  lá a chuva  já não era tão intensa, mas sim constante, apos 5 kms do PC1 apesar de ter visto a sinalização de Passagem de nível, tive uma queda, a passagem de nível era na diagonal em relação a estrada e com o piso molhado não consegui controlar a bicicleta e fui ao chão. O Smiling já havia feito o Brevet como organizador, mas passou lá de dia e com piso seco , não percebeu do risco de queda no local.

Recuperado da queda, com somente algumas escoriações na perna e no cotovelo, apesar de ter batido com a cabeça no chão, o capacete cumpriu com sua função e não houve nada de mais grave, entrei em contato com a organização para que alertassem os ciclistas do risco de queda naquele local. Como sabia que logo atrás viriam outros ciclistas aguardei alguns momentos para alertar aqueles que viessem logo atrás, chegaram o Angel e o Leandro, ambos me ajudaram a colocar alguns galhos de arvore na estrada a fim de alertar quem passaria por ali, aguardamos mais um pouco, mas como não surgiu mais ninguém resolvemos seguir.

Após um longo trecho bem plano, até chato de tão plano, fizemos a foto no PC Virtual de Aparecida e seguimos para  subir a serra de Guaratinguetá, logo amanheceu, e fomos nos espalhando pela serra, surgiram outros ciclistas e seguimos sem maiores problemas até Cunha, somente a noticia da desistência do Angel.

Agora era seguir até a divisa de Estado (SP-RJ) e começar a descer a Serra Paraty Cunha, cheguei no topo com 2 horas de atraso ao que tinha planejado. A descida é íngreme, começar a descer com o piso razoavelmente seco foi uma boa noticia, pois estava muito preocupado comigo e com os demais em ter que descer ali com o chão molhado. Mantemos quase o tempo todo com os freios acionados, para que não houvesse um superaquecimento e consequente desgaste dos freios, eu fui revezando os freios, ora acionava o dianteiro e ora acionava o traseiros, a estratégia foi boa até para descansar as mãos, descida sem problemas.

Em Paraty tínhamos o apoio mecânico da Concept Bike Store, precisei somente de lubrificação na corrente, que com  a chuva estava completamente seca.

Me alimentei com o que tinha no PC e iniciei a subida, contei que foram mais de 9 tops com mais de 15%, sendo que 6 deles tinham mais de 18% de inclinação, foi bem dificil a subida, parei por 2 vezes porque a roda trazeira patinou e tive que desclipar pra não cair e outras 2 vezes parei pra respirar mesmo. Cruzei com vários ciclistas do Brevet que desciam enquanto eu subia, alguns deles me “xingaram” rsrsrs pois estavam achando o percurso difícil, aí pensei… “se eles estão assim descendo imagino como vão estar quando começarem a subir rsrsrsrs. Demorei 3 horas pra subir a Serra. Em Cunha descansei um pouco, almocei, troquei de roupa confraternizei com o Lucio e na hora de sair  começou a chover novamente. O céu parecia que ia limpar, então aguardei mais alguns minutos e saí com uma garoa fina que logo parou.

Pra chegar no topo da Serra de Guaratingueta o percurso nos engana, parece fácil mas, tem umas 3 subidas bem longas, cheguei no topo já anoitecendo, liguei a luzes e no começo da descida encontrei o Carlos Reis com a bike quebrada e já pedindo resgate, como não havia nada o que fazer segui a descida. No PC Virtual de Aparecida encontrei o Lucio e o Vinicius, a ideia era seguirmos juntos na parte urbana do trajeto, foi o que aconteceu, assim que chegou a estrada novamente, eles abriram de mim, meu ritmo era mais lento mesmo.

O sono começava a dar as caras, programei no PC dar uma dormida antes de seguir em frente, mas faltando pouco mais de 5 km desabou um temporal, com muita água e muito vento, me encharquei, a programação de dormir tinha ido literalmente por água abaixo rsrsrsrs, cheguei bem cansado no PC, mas não poderia ficar lá muito tempo, molhado, logo iria esfriar e congelar, então resolvi seguir, a chuva deu uma trégua e consegui desenvolver bem aquele trecho, naquele momento queria chegar no PC dormitório e descansar bem, mas faltando uns 15 km para o PC o sono apertou muito, quando digo apertou muito, é que começa a dar vontade de fechar os olhos em cima da bike mesmo, que é muito perigoso e pode ser fatal, então resolvi parar no Posto de Serviços Frango assado pra dormir uma meia hora, nesse momento, o Avellar organizador concluiu que o PC dormitório poderia ter sido programado uns kms antes dos 455 km rodados do percurso. Devo ter dormido uns 40 minutos, acordei sem aquele sono que me atrapalhava, com energia suficiente pra desta vez chegar no PC, cheguei, carimbei e fui dormir numa cama macia rsrsrsrsrs, antes pedi pra Cassi me acordar as 5:30

Acordei, comi e segui pra ultima perna, tinha 9 horas pra fazer 140 kms, 6:00 horas do domingo, dia claro e sem chuva com céu azul, a novidade desta vez foi o vento contra no Rod D Pedro I sentido Nazaré Paulista, vento bem forte que atrapalhava bem o desenvolvimento do pedal, o jeito era baixar o tronco e seguir contra o vento, cheguei e  tirei a foto no PC Virtual de Nazaré Paulista.

Na volta o que incomodava era o sol. Randonneur não tem trégua, chuva, frio, vento contra, sol, calor etc etc etc, pelo menos o percurso desta vez favorecia muito, na volta de Nazaré são varias descidas longas e subidas curtas que quase se chega ao topo somente no embalo, mais um pouco da Rod Carvalho Pinto e finalmente com 38:51 horas cheguei ao ponto final.

Enfim consegui concluir com êxito o Brevet em homenagem a meu amigo e ídolo Claudio Clarindo.

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