Minha modalidade Randonneur é composta pelos BRMs 200, 300, 400, 600 e 1000 km, pelos LRMs que são as provas acima de 1200 km e pelos Fleches Veloccio e Nacionais, além desses citados temos ainda o Super Randonne que é uma prova especial com ao menos 600 km e no mínimo 10.000 metros de escalada, trata-se também de um Brevet Permanente, ou seja, não tem uma data fixa para sua realização, é o participante que determina quando vai fazer a prova, há duas modalidades do Super Randonne, que são a Randonneurs que deverá ser finalizada em 50 horas e a Turística que tem o tempo para conclusão maior.
Me inscrevi para realizar no SR Guaratingueta na modalidade Randonneurs no dia 08 de abril de 2016, data de aniversario da minha cidade natal Santo Andre – SP.
Trajeto idealizado por Rafael Dias do clube Randonneurs Mogi das Cruzes, com largada na cidade de Guaratingueta, passando por varias cidades ao longo do trajeto, na região de Cunha, São Luiz do Paraitinga e Campos do Jordão, podemos dizer que o trajeto atinge 3 Estados, São Paulo, Rio de Janeiro (divisa) e Minas Gerais, totalizando 614 km e pouco mais de 11.000 metros de elevação acumulada.
Existem Postos de Controle (PCs) onde o ciclista tem que passar e registrar a sua passagem através de fotos.
Foi a minha segunda tentativa, na primeira, por algumas variáveis acabei não finalizando o percurso. Como toda prova da Modalidade, o ciclista não pode receber apoio externo, tem que ser alto suficiente, desta forma se faz necessário um bom planejamento, para o que carregar, onde descansar, onde se alimentar, alem do tempo / velocidade que deve fazer em cada trecho, qualquer deslize no planejamento pode impedir a conclusão da prova.
Larguei de Guaratingueta as 7:00 horas, após uma boa noite de sono e um café da manhã reforçado. Para acumular 11.000 metros de subidas em 614 km é sabido que teremos muitas, mas muitas subidas, pra ilustrar, o Pico do Everest possui pouco mais de 8.000 metros de altitude.
Então, a prova se inicia subindo a Serra de Guaratingueta em direção a Cunha, subi sem maiores problemas e cheguei no PC2 em Cunha em 2 horas e 20 minutos, o tempo estava bem agradável para o pedal, abasteci com água rapidamente e segui para Campos de Cunha.
Lindo lugar pra pedalar, gosto muito deste trecho, varias subidas de media distancia, algumas mais inclinadas outras menos, e uma linda paisagem, tudo bem até lá também, o sol estava presente mas a temperatura agradável, tempo decorrido até lá de 4 horas e 2 minutos, e 77 km percorridos, também abasteci de água e tomei um refrigerante, deste ponto fazemos o retorno pelo mesma rodovia até Cunha, essa volta é ainda mais prazerosa.
Parei um Cunha pra fazer um lanche rapido, daí em diante é um dos trechos mais dificeis, pra subir pra Divisa com o Estado do Rio de Janeiro, tem uns trechos de até 14% de inclinação, mas a estrada é bem bonita e prazerosa de pedalar, tem uma bela cachoeira no caminho, mas como demora pra chegar na Divisa hein rsrsrsrs, também é um bate e volta, já eram 129 km pedalados em 3129 metros de elevação em pouco mais de 8 horas de pedal
A volta pra Cunha por aquela bela estrada e descendo bastante é show. Chegando em Cunha um topzinho de 15%, antes, parei na serra pra abastecimento e depois em Cunha pra almoço, até aqui estava muito bem, gosto de pedalar de dia, cheguei no PC da Estrada Real as 18:10 horas, começava a anoitecer.
Agora era seguir para São Luis de Paraitinga, depois de passar por Lagoinha, parada em SLP São Luiz do Paraitinga pra alimentação, tratamento VIP no Barão Café, até um local para um cochilo me foi oferecido, mas não pude me dar este prazer, precisava continuar no pedal e seguir para p PC5 na placa do Rio Paraibuna.
Esta parte é uma das mais sofridas, a noite, um dos poucos lugares que tem maior movimento de veículos, subidas longas e chatas e essa ponte também demora a chegar, bora voltar e seguir até Tremembé que era a minha meta do primeiro dia, já havia rodado 257 km em 16 horas
Tremembé foi o meu local de apoio (dropbag), 334 km, pra chegar nele começou o sofrimento, o sono começava a dar sinal, cachorros treinadores no caminho rsrsrsrs mas cheguei meia hora depois do programado, as 2:30 horas do sábado, banho, preparativos pro dia seguinte e sono, dormi por 1:30 horas, no “dia seguinte” no pé da serra tava tudo nublado, mal sabia o sol que viria pela frente, foi difícil acreditar na previsão do tempo que apontava dia ensolarado, larguei as 6:30 em direção a Campos do Jordão. Tomei um café da manhã na beira da estrada bem no pé da serra mesmo, encontrei alguns ciclistas no local e comecei a subir num clima nublado e agradável, o cansaço começava a aparecer, tive algumas dores musculares na subida pra Campos do Jordão. Não vou nem falar como são os 2 ultimos Km pra se chegar no Mirante do Lajeado o PC7 kkkkkkkkkkkkk, mas o esforço é compensado pela paisagem, eram 9:42 horas do sábado, quando cheguei no Mirante.
Saindo do Mirante do Lajeado todos pensam que agora é só descer o Paiol… Engano de todos kkkkk o Rafael Dias é o único capaz de fazer uma descida subindo, pra sair o Mirante sobe, pra sair de Campos do Jordão sobe e pra descer o Paiol sobe e como sobe, nestes intervalos parei duas vezes pro lanche, uma em Campos e outra na divisa em São Bento do Sapucaí, bem antes dos 5 km duros até a realmente começar a descer o Paiol, nesse local bati um papo com os nativos do lugar, as pessoas ficam admiradas quando relatamos o que estamos fazendo.
A Cachoeira do Toldi fica no meio da descida do Paiol, dói as mãos de tanto pressionar os freios, incrível saber que ciclistas sobem aquele lugar. Bateu 398 km em 29:42 horas de tempo total e 22:05 horas de pedal efetivamente. Aproveitei que não havia turistas no local e dei uma descansada deitado no gramado a beira da estrada.
Saindo do PC da Cachoeira do Toldi eu sabia de um restaurante bem no meio da serra, mas para minha surpresa o mesmo estava fechado, acabei parando pra almoçar no final da descida do Paiol. O Sol estava rachando mamona, pensei em aguardar após o almoço pra amenizar o sol, mas não consigo, prefiro seguir devagar ganhando alguns Kms do que ficar parado. E o sol estava mesmo muito forte, destruindo minhas energias, parei no acostamento e descansei um pouco, até um senhor parar o carro pra ver se eu estava bem.
No PC antes de subir a serra velha, parei só pra abastecer e tomar um refrigerante. Foi doída a subida da Serra Velha, sol, calor, dores, alucinações, etc. parei duas vezes pra recuperar a energia e o psicológico, foi a parte mais critica da prova, mas chegar de volta a Campos do Jordão recupera qualquer um, quando vi a placa bem vindo a Campos do Jordão até sprintei os últimos metros da subida.
Cheguei no Portal de Campos do Jordão as 17:57 horas ainda claro, mas tive que descer a serra já escurecendo, então não pude abusar no downhill. De Campos do Jordão até Lagoinha foi um momento critico… Desci a Serra Nova e parei novamente em Tremembé pra descanso, em vão, umas fisgadas no meu pé não me deixaram dormir, descansei somente, quando me preparava pra seguir viagem percebi que minha temperatura estava alta, provável sintoma de insolação, mas teria que sair equipado pro frio, então nos primeiros Km senti muito desconforto com a roupa e acabei com a água em poucos Km, sentia muita sede, me preocupei pois era noite e aquele trecho da estrada não conta com uma estrutura rica em abastecimento, mas por sorte encontrei um boteco fechando, Deus deve ter segurado aqueles pinguços incomodando o proprietário até eu chegar, foi isso que pensei na hora rsrsrs. Tomei um isotônico e abasteci de água, melhorei muito e segui nos grandes falsos planos até a SLP, faltando uns 20 Km pra Lagoinha o sono era muito grande, procurava a todo momento um local pra encostar e dormir, qualquer coisa “segura”, ponto de ônibus, uma porteira, qualquer coisa menos dormir em cima da bike, o frio apertou e vesti a segunda pele, que carregava no bolso, mas o sono continuava, foi então que visualizei um haras, com portaria limpa, iluminada e com um gramado tentador rsrsrs, não deu outra, camuflei a bicicleta e deitei no gramado e dormi muito bem usando o capacete de travesseiro (lições do PBP) sono revigorador, cheguei em Lagoinha e a Praça da Matriz é o POINT da cidade, estava cheio de jovens se divertindo, já era domingo as 02:08 horas, descansei, conversei com um ciclista local e dormi mais um pouco lá na calçada.
Enfrentar o frio era a batalha do momento, a boa noticia era que o trecho tinha varias subidas, mas nos km iniciais torci muito pra subidas pois estava frio depois de algum tempo parado em Lagoinha, mas demorou pra vir a primeira subida, passei frio por alguns kilometros, mas quando começaram as subidas me aqueci, de Lagoinha até o alto da Serra pra Guaratingueta fui me arrastando, mas bem o cansaço que era grande. Pronto agora é só descer e partir pro abraço.
Depois de 47 horas e 9 minutos, missão cumprida.
Tenho duas séries completas de Super Randonneur de 200 até 1000 km, sou finisher do PBP Paris Brest Paris de 1200 km, mas só depois dessa prova me sinto realmente um SUPER CICLISTA